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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ruído, palavra, silêncio!

  Estas três palavras marcam nitidamente os três estágios evolutivos do homem e da humanidade.

O homem intelectual de hoje é uma fronteira entre o homem bárbaro de ontem e o homem espiritual de amanhã.
O homem chamado civilizado é amigo da palavra, veículo externo de processos mentais internos.
O homem selvagem de outrora e de hoje manifestava e manifesta a sua vitalidade e emoções por meio de ruídos de toda a espécie.
O homem que superou esses dois estágios preliminares encontra o seu reino predileto no silêncio, que para ele não é vacuidade, mas plenitude.
Para além da palavra está o silêncio; para aquém da palavra, o barulho.
O ruído, inarticulado ou articulado, foi sempre o inseparável companheiro do homem incompleto, desde os gritos estridentes das hordas antigas até os gritos orquestrados das hordas modernas. O homem só começa a sentir o desprezo do ruído quando se distancia da análise mental e se aproxima da intuição espiritual – e no zênite da experiência íntima impera o silêncio absoluto, fecundo, criador, o silêncio – plenitude. A mensagem dos grandes silenciosos perdura através dos séculos e milênios, porque não é afetada pelas categorias de tempo e espaço.
A palavra constrói para o tempo, e, não raro, destrói o que construiu - o silêncio constrói para a eternidade.
O amante da palavra pensa que o amigo do silêncio seja um homem triste e misantropo – mas o amigo do silêncio vive num paraíso de felicidade, ainda que a sua beatitude se encontre numa outra dimensão, ignorada pelo idólatra do ruído e da palavra.
Deus é infinitamente silencioso, e quanto mais o homem se aproxima de Deus mais silencioso se torna.
O ruído é dos homens – o silêncio é de Deus.
O ruído esteriliza - o silêncio fertiliza.
(Em “A Voz do Silêncio”, de Huberto Rohden – Editora Martin Claret, São Paulo, 1992)

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